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Vertigem e Reabilitação Vestibular

     A reabilitação vestibular vale-se de aspectos neurosensoriais, a partir do trabalho das aferências, sendo favorecida pela plasticidade neuronal. O Sistema Nervoso Central (SNC) possui uma característica ímpar, qual seria sua capacidade para adaptar-se às assimetrias oriundas do sistema labiríntico periférico. Este processo resulta da compensação vestibular decorrente de alterações das ativações neuronais ao nível do cerebelo e tronco encefálico em resposta aos conflitos sensoriais produzidos por patologias vestibulares. Este processo central tanto pode compensar completamente os sintomas, como pode produzir uma deteriorização gradualmente progressiva.
 
     A vertigem aguda é usualmente resultante de uma disfunção do nervo vestibular ou do sistema labiríntico periférico. Como ocorre uma compensação na fase aguda, os sintomas de tontura são reduzidos drasticamente e o nistagmo é observado somente quando a fixação visual é eliminada. Esta compensação aguda ocorre pela influência do cerebelo, ao nível dos núcleos vestibulares, localizados no tronco encefálico. Entretanto, a instabilidade postural persiste, porque o sistema inibido é incapaz de resposta efetiva aos estímulos vestibulares produzidos por movimentos normais da cabeça. Amiúde deparamos, na prática diária, com uma recuperação sintomática importante, frente à vertigem intensa. Por outro lado, a vertigem induzida por movimentos da cabeça (decúbito-dependente) permanece até que uma compensação crônica seja alcançada.
 
     A habituação é baseada na estimulação vestibular repetitiva. A compensação é um processo de adaptação em que ocorre substituição das informações geradas no labirinto lesado por estímulos multisensoriais (visuais, proprioceptivos, etc). Este fenômeno envolve reaprendizagem sensório-motora realizada por várias estruturas integradas do SNC e que ocorre, apenas, nos animais ativos, ou seja, que se movimentam. Estudos experimentais prospectivos têm demonstrado que a base neural para a compensação é distribuída por todo o SNC e não se limita a uma área específica. Pacientes com lesões estáveis ou portadores de lesões mistas (centrais e periféricas) não são excluídos do tratamento, contudo o prognóstico pode ser mais reservado, comparados aqueles com disfunção periférica estável. As lesões no SNC podem dificultar ou mesmo impedir a capacidade de compensação.
 
     Para que ocorra a eliminação da instabilidade postural e da vertigem residual provocada pelo movimento, o sistema deve diminuir a inibição cerebelar, restabelecendo a simetria das informações neurais vindas dos núcleos vestibulares, assim como, das respostas imediatas da movimentação da cabeça. Se a lesão periférica é extensa, o núcleo vestibular ipsilateral torna-se responsivo às alterações das informações oriundas do nervo vestibular contra-lateral, por ativação das vias neurais comissurais. Isto significa que o processo de compensação pós-cirurgia vestibular ablativa, tais como labirintectomia ou secção do nervo vestibular, é considerado crítico. Se a lesão periférica é incompleta, a disfunção labiríntica produzirá respostas distorcidas frente aos movimentos, o qual requer ajustes apropriados do SNC para reinterpretar a informação sensorial que venha do lado lesado. Se a lesão é instável, a habituação será praticamente impossível, pois o processo de compensação, iniciado na fase aguda, decorre dos movimentos da cabeça. A habituação pode, também, ser retardada pela inatividade ou dificultada na vigência de disfunções vestibulares pré-existentes ou de origem central. Através das drogas, pode-se chegar ao alívio satisfatório dos sintomas na crise aguda, mas elas são potencialmente contra-producentes quanto à compensação vestibular central, especialmente se usadas por longos períodos.
 
     A queixa de vertigem, ou tontura do tipo rotatório, é muito comum, e pode ser secundária a doenças sediadas em outras partes do corpo humano. Aspectos epidemiológicos mostram que a incidência aumenta com a idade; 1,3% de todas as visitas médicas de pessoas com idade entre 45-64 anos, 2,9% de pessoas acima dos 65 anos e 3,8% de pessoas acima de 75 anos.
 
     A vertigem pode ser causada por diferentes condições médicas, onde se estima que mais de 45% deve-se aos distúrbios vestibulares. A etiologia da disfunção vestibular é variada e os fisioterapeutas poderão encontrá-la em diversas práticas profissionais, tais como geriatria, neurologia, ortopedia e desportiva. Há sessenta anos atrás, tratava-se vertigem com secção bilateral do nervo vestíbulo-coclear. Atualmente, a utilização de medicação supressora da atividade vestibular, a fisioterapia vestibular e os raros casos de cirurgia do labirinto, são preconizados.
 
     Apesar de notável capacidade, a compensação vestibular central apresenta-se como processo um tanto frágil. Mesmo após uma completa recuperação, podem ocorrer recidivas devido à descompensação, geralmente em decorrência de um período de inatividade física, fadiga extrema, alterações medicamentosas ou alguma patologia presente. A recidiva dos sintomas vestibulares não significa que a disfunção labiríntica seja de caráter contínuo ou progressivo. Diversos autores concordam que essas características da compensação central sugerem que o impedimento dos movimentos e posturas corporais que provoquem vertigem, assim como as abordagens tradicionais através, e somente, da prescrição de medicação supressora de atividade vestibular, podem ser impróprias. A partir do momento que os sintomas severos da fase aguda são resolvidos, a medicação deve ser interrompida e um programa ativo deve ser iniciado. Assim como, os pacientes em que os sintomas persistirem, devem ser selecionados para a reabilitação vestibular. Herdman [2007], adverte que o chavão “Se os exercícios provocam vertigem, significam que sejam bons para o indivíduo”, utilizado como critério para a cinesioterapia labiríntica, nem sempre é o ideal. Obviamente, os exercícios da cabeça realizados no plano inclinado, podem provocar vertigem até em sujeitos saudáveis, mas não implica em dizer que haverá alterações substanciais das respostas vestibulares a longo prazo, comenta a autora. 
 
Prof. Dr. André Luís dos Santos Silva

Professor do curso de Reabilitação Vestibular do Grupo FisioWork®
 
  Doutor em Fisioterapia (UBA – Argentina/UFRJ);
  Professor pesquisador do Mestrado em Ciências da Reabilitação/
UNISUAM – RJ. Recomendado pela CAPES/MEC;
  Formação Internacional em Reabilitação Vestibular pela Emory University,
Atlanta com certificado emitido pela American Physical Therapy
Association – APTA, USA – Vestibular Rehabilitation: A Competency-Based Course – Director: Prof. Susan Herdman, PT,PhD, FAPTA;
  Conferências e Artigos publicados sobre Reabilitação Vestibular;
e Revisor Científico da tradução do livro Reabilitação Vestibular, da Fisioterapeuta Norte-Americana Susan Herdman,PT,PhD.