O alongamento antes de dormir reduz câimbras noturnas em adultos

Um estudo realizado na Holanda com 80 adultos (acima de 55 anos) revelou que o alongamento antes de dormir pode reduzir a frequência e a intensidade da câimbras noturnas que são típicas desta faixa etária. Veja abaixo os detalhes do estudo:

Introdução: A câimbras noturnas tendem a aumentar com o avanço da idade. As causas são desconhecidas mas fatores precipitantes são reconhecidos como um desequilíbrio eletrólito (Monderer et al 2010), substâncias como diuréticos, morfina, esteróides e lítio (Butler et al 2002, Kanaan and Sawaya 2001, Monderer et al 2010) e inatividade física (Monderer et al 2010, Sontag and Wanner 1988). A quinina e a hidroquinona se mostraram moderadamente eficazes em reduzir as câimbras (El-Tawil et al 2010, van Kan et al 2000) mas podem produzir efeitos colaterais severos.

Participantes: Oitenta adultos com mais de 55 anos com câimbras na perna noturnas que não foram tratados com a quinina.

Intervenção: Grupo experimental fizeram alongamentos da panturrilha e dos isquiotibiais imediatamente antes de ir dormir, por seis semanas, todos os dias. O grupo controle não executou nenhum exercícios de alongamento específico. Ambos os grupos continuaram outras atividades usuais.

 Medidas do resultado: Os participantes registraram a  frequência de câimbras  noturnas na perna em um diário. Os participantes igualmente registraram a severidade da dor associada com as câimbras em uma escala analógica visual de 10 cm onde 0 é sem dor e 10 a pior dor imaginável. Os eventos adversos também foram registrados.

 Resultados: Todos os participantes terminaram o estudo. Em seis semanas, a frequência de câimbras noturnas diminuiu significativamente mais no grupo experimental (CI 0.6 a 1.8 de 95%). A severidade das câimbras noturnas também diminuiu  significativamente mais no grupo experimental do que no grupo de controle, diferença média 1.3 cm (CI 0.9 a 1.7 de 95%) na escala analógica visual de 10 cm.

 Conclusão: O alongamento noturno antes de ir dormir reduz a frequência e a severidade de câimbras na perna noturnas em adultos.

 

Referência: Stretching before sleep reduces the frequency and severity of nocturnal leg cramps in older adults: a randomised trial.  Joannes M Hallegraeff, Cees P van der Schans, Renee de Ruiter and Mathieu HG de Greef. Journal of Physiotherapy 2012 Vol. 58

 

Fonte: Blog Terapia Manual

 

Fundamentos da fisioterapia dermato-funcional

O completo sucesso da cirurgia plástica depende ainda da participação do paciente, com a associação de dietas, atividade física e alterações em seu modo de vida48.

Flacidez

É decorrente de atrofia de tecido, ficando este com aspecto frouxo, afetando em separado pele ou músculos3. Pode ser conseqüência do envelhecimento fisiológico, onde há perda gradativa de massa muscular esquelética, substituída por tecido adiposo, e atrofia do tecido adiposo subcutâneo, dentre outras alterações3,27,49. O sedentarismo é apontado como causa de flacidez muscular, assim como o emagrecimento em demasia, podendo este último afetar também a pele3.

O tratamento desse tipo de patologia consiste em restabelecer a tensão perdida, indicando-se tratamentos que já fazem parte da rotina do fisioterapeuta, como eletroterapia e cinesioterapia3. Para a flacidez de pele, peelings químicos com ácido glicólico50 e mesmo a cirurgia plástica22 são procedimentos recomendados.

Cicatriz hipertrófica e quelóide

As cicatrizes hipertróficas e os quelóides caracterizam-se por síntese de colágeno com fibras que não se orientam ao longo das linhas de fenda, mas sim em espiral3,51.

Existem inúmeras dúvidas quanto ao diagnóstico diferencial das duas patologias, porém, segundo Wolwacz et al.51, há diferenças histológicas comprovadas entre elas, que apontam para duas patologias diferentes. Para Guirro & Guirro3, uma cicatriz hipertrófica pode regredir espontaneamente e a hipertrofia ocorre dentro dos limites da lesão. Os quelóides não apresentam essa melhora espontânea: a fibrose forma-se além dos limites da lesão e os portadores têm sensação de prurido, ferroadas ou queimação3,52.

Fatores como infecção, tensão da ferida, tração excessiva no momento da incisão cirúrgica podem favorecer o aparecimento de quelóides52.

O tratamento desse tipo de cicatrização é variado. Inicialmente era preconizada cirurgia para sua redução, porém esse método isolado é freqüentemente passível de recidiva51. Atualmente é indicado o uso da terapia de compressão (malha de tecido elástico aplicada diretamente na lesão por grande período de tempo), uso de corticóides, lâminas de silicone (oclusão e hidratação do estrato córneo), cirurgia a laser e crioterapia (destruição das camadas celulares por anóxia devido à ação do frio nos vasos)51,52.

A microdermabrasão superficial é um recurso indicado por sua simplicidade e baixo risco31,32. A massagem, seja feita por técnicas manuais ou com o auxílio de aparelhos, também tem sua aplicabilidade na terapêutica para melhoria das cicatrizes3,17, assim como o ultra-som3,53 e a iontoforese20.

Queimaduras

As queimaduras podem ser elétricas, químicas, causadas por contato direto com a chama, por escaldamento, por fricção ou exposição solar, dentre outras54. Dentre as principais causas estão os acidentes domésticos, seguidos de acidentes no trabalho, tentativas de suicídio ou homicídio e, por último, acidentes de trânsito e/ou de lazer54.

Sua classificação varia de acordo com a profundidade da lesão tecidual, podendo ser divida em três graus 3,54:

1º grau: somente a epiderme é atingida. A região encontra-se hiperemiada e dolorida. A recuperação total ocorre em poucos dias.

2º grau: comprometimento parcial da derme. Há presença de bolhas ou flictemas (extravasamento plasmático) e dor. Sua cicatrização varia de poucos dias a três semanas e podem apresentar seqüelas dependendo da profundidade da lesão, variando entre discromias, retrações e hipertrofia.

3º grau: Toda a derme é atingida podendo comprometer tecido adiposo, tendões, músculos e ossos. Como a epiderme costuma ser destruída no momento do acidente, com a derme exposta, a lesão é esbranquiçada, endurecida e, em geral, indolor. A cicatrização nesses casos só é possível com a enxertia cutânea, uma vez que toda a pele foi destruída.

Em todos os graus de queimaduras há grande variedade de complicações, como alterações eletrolíticas e metabólicas, derrame articular, calcificações de partes moles, neuropatia, infecção cutânea e pulmonar, insuficiência cardíaca, respiratória, renal e hepática, amputações, além de lesões pulmonares por ação direta do calor e inalação de diferentes gases resultantes da combustão dos materiais presentes no local, no caso de acidentes3,54.

O tratamento de pacientes queimados é multidisciplinar3,5,56 e segue abordagens diferentes de acordo com a fase em que se encontra o paciente, podendo ter seu foco na queimadura, na terapia intensiva, na cicatriz e na recuperação funcional dos movimentos3,5,57. É fundamental uma terapêutica específica para cada caso, variando de acordo com o grau de comprometimento da pele e lesões associadas, podendo haver a necessidade de inclusão de exercícios respiratórios, de alongamento e de força muscular3,57,58.

Para melhoria da qualidade da pele, a Endermologie® é um recurso indicado, uma vez que este foi criado inicialmente na França para tratamento de queimados13,16,18,19. A aplicação dessa técnica traz benefícios às propriedades físicas da cicatriz (elasticidade e maleabilidade) e aparência (cor e textura)59, semelhante ao que acontece com a aplicação da massagem tradicional, com a vantagem de ser muito mais rápida e menos cansativa16,18,19.

Recursos como o ultra-som, TENS e laser também podem ser utilizados como alternativa na recuperação da cicatriz e melhora geral do paciente3,58.

Linfedema

Ocorre quando há acúmulo de líquidos e proteínas nos espaços intersticiais49. O linfedema pode ser decorrente de alterações do próprio sistema linfático, como por exemplo o linfedema congênito, ou causado por retirada dos linfonodos (linfadenectomia), radioterapia, pós-infecções, doenças neoplásicas, traumas extensos, dentre outros3. Nos dois casos, fatores como infecção cutânea, viagens de longa distância e aplicação de compressão podem causar complicação do quadro60. É um quadro comumente encontrado em mulheres que sofreram mastectomia para retirada de tumor em mama, pois pode haver necessidade da retirada da cadeia axilar de nodos linfáticos, alterando a circulação normal da linfa3,61.

Seu tratamento deve ser multidisciplinar3. Além disso, os recursos utilizados deverão ser associados na busca do melhor resultado3,60-2.

A perimetria do membro tratado deve ser feita como uma rotina clínica, para a avaliação do resultado da terapia aplicada3,60,61.

A terapia pode ser iniciada com a elevação do membro acometido, podendo fazer parte a drenagem linfática manual (com o objetivo de melhorar a absorção e transporte de líquidos), o enfaixamento compressivo (para evitar o refluxo da linfa), uso de bombas pneumáticas – recurso também conhecido como pressoterapia (drenagem obtida pela utilização de sistema de compressão seqüencial)–, cinesioterapia (indicada desde o início do tratamento, pois as contrações musculares irão exercer compressão no tecido, favorecendo a drenagem linfática)3,60-62.

Por ser uma área de atuação muito recente, a pesquisa científica efetuada por profissionais que aí atuam ainda é escassa. No entanto, este levantamento bibliográfico permitiu observar que há na literatura científica embasamento para justificar a escolha dos diversos recursos utilizados nas patologias englobadas por essa área da fisioterapia. Há necessidade de se ampliar o número de pesquisas científicas, consolidando assim a fisioterapia dermato-funcional como uma área relevante no contexto da saúde brasileira.

Milani et al.Fisioterapia dermato-funcional

1COFFITO – Conselho Federal de Fisioterapia e

Terapia Ocupacional. Fisioterapia: definições e áreas de atuação. [site oficial] [citado jul. 2004]. Disponível em: http://www.coffito.org.br/ conteudo_1.asp?id=8.

2CREFITO 3. Conselho Rregional de Fisioterapia e

Terapia Ocupacional de São Paulo [site oficial]. [citado jul. 2004] Disponível em: http:// w.crefito3.com.br.

3Guirro E, Guirro R. Fisioterapia dermato-funcional: fundamentos, recursos, patologias. 3a ed. São Paulo: Manole; 2002.

4American Physical Therapy Association. Guide to physical therapist practice. Phys Ther. 2001;81(1):9-746.

5Silva CR, Guirro E, Prati FAM, Campos MSMP, Herck

RAR, Tacani RE. Como o fisioterapeuta pode atuar no campo da estética [Parecer para o Crefito5]. Porto Alegre: Crefito5; 1997.

6Piérard GE, Nizet JL, Franchimont CP. Cellulite: from standing fat herniation to hypodermal stretch marks. Am J Dermatol. 2000;2(1):34-7.

7Rosenbaum M, Prieto V, Hellmer J, Boschmann M,

Krueger J, Leibel RL, et al. An exploratory investigation on the morphology and biochemistry of cellulite. Plast Reconstr Surg. 1998;101(7):1934-9.

8Draelos ZD, Marenus KD. Cellulite, etiology and purported treatment. Dermatol Surg. 1997;23(12):17-81.

9Lotti T, Ghersetich I, Grappone C, Dini G. Proteoglycans in so-called cellulite. Int J Dermatol. 1990; 29(4):272-4.

10Segers AM, Abulafia, Kriner J, Cortondo O. Celulitis: estúdio histopatológico e histoquímico de 100 casos. Med Cut ILA. 1984;12:167-72.

11Hexel DM, Oliveira NIM. Tratamento da celulite pela subcisão. In: Horibe EK. Estética clínica e cirúrgica. Rio de Janeiro: Revinter; 2000. p.261-4.

12Hexsel DM, Mazzuco R. Subcision: a treatment for cellulite. Int J Dermatol. 2000;39(7):539-4.

13Ciporkin H, Paschoal LH. Atualização terapêutica e fisiopatogênica da lipodistrofia ginóide (LDG) “celulite”. São Paulo: Santos; 1992.

14Collis N, Elliot LA, Sharpe C, Sharpe DT. Cellulite treatment: a myth or reality; a prospective randomized, controlled trial of two therapies, endermologie® and aminophylline cream. Plast Reconstr Surg. 1999;104(4):1110-4.

15Benelli L, Berta JL, Cannistra C, Amram P, Benhamou

G. Endermologie: humoral repercussions and estrogen interaction. Aesthetic Plast Surg. 1999;23:312-5.

16Chang P, Wiseman J, Jacob T, Salisbury AV, Ersek RA.

Noninvasive mechanical body contouring (endermologie): a one-year clinical outcome study update. Aesthetic Plast Surg.1998;2:145-53.

17Watson J, Fodor PB, Cutcliffe B, Sayah D, Shaw W.

A Atuação do Fisioterapeuta em Programas de Reabilitação Cardíaca

Trabalho realizado por: Adriana Vieira de Souza Lima Cruz.


Introdução

Atualmente a doença coronariana é a maior causa de morbidade e mortalidade em países industrializados da Europa e da América do Norte. Cerca de 30% de todos os óbitos ocorridos no Brasil, tem as doenças cardiovasculares como responsáveis, sendo o infarto agudo do miocárdio sua principal causa.

A incidência de patologias cardiovasculares nos países desenvolvidos vem aumentando a cada ano, com 80% relacionadas à doença arterial coronariana, na qual na maioria das vezes, a cirurgia de revascularização do miocárdio se faz necessária.

O primeiro estudo brasileiro sobre risco cardiovascular, ocorrido em 1990, demonstrou que na cidade de São Paulo 69,3% dos indivíduos acometidos por cardiopatias eram sedentários. No decorrer dos anos, a prática de exercícios físicos foi descritas ora como aliada, ora como deletéria, no controle e tratamento de pacientes com doenças cardiovasculares.

Pacientes cardiopatas sem contra-indicação para realizar exercício físico podem fazer a reabilitação cardíaca. Estudos avaliaram evolução significativa no tratamento de pacientes com doença arterial coronária em pacientes que realizaram um programa de reabilitação cardíaca. Este fato alterou os dados demográficos dos pacientes candidatos à reabilitação cardíaca. 

Os pacientes que realizam angioplastia coronária têm benefícios evidentes na realização de programa de reabilitação cardíaca. Aqueles com falência cardíaca congestiva são também candidatos a um programa de reabilitação, entretanto algumas modificações neste são necessárias, este é o caso dos pacientes transplantados do coração.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006), define a reabilitação cardíaca como um programa multidisciplinar, que envolve médico, psicólogo, nutricionista, educador físico, enfermeiro e fisioterapeuta e tem como objetivo a reabilitação de pacientes cardiopatas, inclusive pós IAM. 

De acordo com as Diretrizes de Reabilitação Cardíaca a prescrição de exercícios deve ficar a cargo de profissional especializado em exercício físico, como o fisioterapeuta. 

De forma geral, nos pacientes cardiopatas, programas de condicionamento físico resultam em melhora da capacidade funcional, além de redução da freqüência cardíaca, pressão arterial sistólica e da concentração plasmática de catecolaminas em intensidades submáximas de exercício.

Revisão da literatura

Aspectos da Reabilitação Cardiovascular (RC)

A Organização Mundial da Saúde define a Reabilitação Cardíaca (RC) como sendo “o conjunto das intervenções necessárias para fornecer ao doente cardíaco uma condição física, psicológica e social tão elevadas quanto possível, de forma que os doentes com patologia crônica ou pós aguda possam, pelos seus próprios meios, preservar ou retomar o seu lugar na sociedade”.

Pryor e Webber (2002) relatam que, durante os anos 50, os programas de reabilitação envolviam principalmente pacientes com doença arterial coronariana acometidos pelo Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). Nessa época, baseados no pressuposto de que a inércia facilitaria o processo de cicatrização, os médicos recomendavam repouso de três semanas.

Com o passar do tempo, observou- se que o repouso prolongado no leito resultava em alguns efeitos deletérios e a atividade física promovia vantagens. Uma vez que o exercício físico pode aumentar a capacidade da função cardiovascular e diminuir a demanda de oxigênio miocárdico para um determinado nível de atividade física.

Hoje, os pacientes saem do leito hospitalar após poucos dias da admissão, retornam para casa 7 a 10 dias depois de disfunções IAM. Além disso, a RC foi ampliada e passou a envolver pacientes acometidos por outras cardiopatias, bem como aqueles em recuperação de angioplastia coronariana ou cirurgia cardíaca.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2004), a reabilitação cardíaca permite aos cardiopatas retornar, o quanto antes, à vida produtiva e ativa, a despeito de possíveis limitações impostas pelo seu processo patológico, pelo maior período de tempo possível. Além de restaurar, nesses pacientes, sua melhor condição fisiológica, social e laborativa; prevenir a progressão, ou reverter o processo aterosclerótico, nos pacientes coronariopatas; reduzir a morbimortalidade cardiovascular e melhora da sintomatologia de angina de peito, ou seja, aumentar a quantidade e a qualidade de vida com relação a custo/efetividade conveniente.

Segundo Dias, Matta e Nunes (2006), o início da terapia de reabilitação cardíaca é definido pela equipe médica, levando em consideração a evolução do paciente, baseado na classificação de Killip-Kimball, que é uma classificação de gravidade baseada em evidências da presença de insuficiência cardíaca ou choque cardiogênico.

Descrição da RC e suas diferentes fases

Em decorrência de novos conceitos de estratificação de risco e manejo, as fases da reabilitação pós-infarto, divididas em 1, 2 e 3, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2004), atualmente sendo denominadas fase hospitalar e fase ambulatorial. Há também aquela fase pós-hospitalar, fase 4, encontrada nesse estudo bibliográfico.

Na fase hospitalar são as atitudes de reabilitação tomadas durante o período compreendido desde o início do evento coronariano até a alta hospitalar, enquanto que a ambulatorial corresponde à reabilitação após a alta hospitalar.

Os objetivos da Fase 1 incluem a educação do paciente e da família, deambulação e realização de exercícios de pequena intensidade com o objetivo de prevenir problemas associados ao repouso prolongado no leito e a preparação para um tipo de vida mais ativo após a alta hospitalar. A Fase 2 representa um programa precoce de pós hospitalização, que consiste em grupos de exercícios monitorados e supervisionados por médicos, educação do paciente e de sua família.

A Fase 3 é realizada em casa, hospitais, clínicas especializadas ou centro comunitários, onde o principal objetivo é alcançar um nível de função compatível com a ocupação profissional de cada paciente, ou até mesmo, sua preferência recreativa. Os programas da fase 4 são uma continuação da fase 3 e representam a fase de manutenção a longo prazo do ganho funcional já adquirido após a recuperação. Os programas dessa fase são comparáveis aos programas de condicionamento físico a adultos sedentários.

Fase 1 – Hospitalar

A fase 1 dos programas de Reabilitação Cardiovascular têm início ainda dentro da unidade coronariana. Ela é composta por exercícios de baixa intensidade, que “durante a internação hospitalar têm se mostrado seguros praticáveis e benéficos, embora não seja observada nenhuma melhora na aptidão cardiovascular com atividades de baixa intensidade” (FARDY, YANOWITZ e WILSON, 1998).

Normalmente esse tipo de atividade é prescrito pelo médico do paciente e usualmente é de responsabilidade do fisioterapeuta ou enfermeiro que podem também contribuir no programa.

Titoto et al (2005) relata que o tratamento fisioterapêutico na fase hospitalar baseia-se em procedimentos simples, como exercícios metabólicos de extremidades, para aumentar a circulação, exercícios respiratórios para eliminar obstruções respiratórias e manter os pulmões limpos, exercícios ativos para manter a amplitude de movimento e elasticidade mecânica dos músculos envolvidos, treino de marcha em superfície plana e com degraus, reduzindo os efeitos prejudiciais do repouso prolongado no leito, com isso aumenta a autoconfiança do paciente e diminui o custo e a permanência hospitalar

Os objetivos dessa fase incluem reduzir o tempo de permanência hospitalar e diminuir os problemas de descondicionamento associados com o repouso prolongado no leito, como atrofia muscular, hipotensão postural e deterioração circulatória geral.

Nessa fase a duração total dos exercícios devem ser em torno de 20 minutos, duas vezes ao dia. Durante o exercício, o aparecimento de alguns sinais e sintomas, tais como: fadiga, dispnéia, cianose, palidez, náuseas, 20 bpm acima da freqüência cardíaca de repouso e pressão sistólica 20 mmhg acima dos níveis de repouso e ainda o índice de percepção de esforço de Borg, indica a interrupção do exercício. A hipotensão arterial indica grande comprometimento da função de bomba ventricular, sendo critério de exclusão do programa de reabilitação3.

Fase 2 e 3 – Ambulatorial

Segundo Marques8 (2004) fase 2 da reabilitação cardíaca é um programa supervisionado para pacientes que receberam alta hospitalar, de exercícios prescritos de forma individual e alternativa de modificação do estilo de vida. “O programa de exercício deve ser individualizado em termos de intensidade, duração, freqüência, modalidade de treinamento e progressão” (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDOLOGIA, 2005). 

Essa fase deve também ser realizada sob a supervisão do médico, como ato contínuo a fase 1. O período de exercícios pode ser iniciado 24h após a alta hospitalar, sempre considerando o estado clínico do paciente. Tem duração prevista de 3 a 6 meses, podendo em algumas situações se estender por mais tempo. 

Esta fase tem como objetivo melhorar a função cardiovascular, a capacidade física de trabalho, endurance, flexibilidade, educar o paciente quanto à atividade física, modificação do estilo de vida, melhorar o perfil psicológico, preparar o paciente para o retorno de suas atividades.

Após o término bem sucedido da fase 2, o paciente passa para a 3, que pode ser realizada em casa, clínicas especializadas, programas comunitários ou em outro local com supervisão. Durante a fase 3, a prescrição de exercícios deve ser revista periodicamente, incorporando os ganhos obtidos.

O objetivo da fase 3 é promover adaptações no sistema cardiovascular, para que os pacientes retornem, o quanto antes, às atividades profissionais, esportivas e de lazer com maior segurança.

A fase 3 é na maioria das vezes um programa supervisionado e intermitente monitorizado. Pode ser iniciada em qualquer etapa da evolução da doença, não sendo obrigatoriamente seqüência das fases anteriores. Tem duração prevista de 6 a 24 meses.

Fase 4 – Não-supervisionada

A fase IV é caracterizada por pacientes que optem realizar o tratamento domiciliar, ou em outro ambiente externo. De acordo com Fardy, Yanowitz e Wilson (1998), o programa de exercícios deve ser prescrito por profissional especializado (médico, fisioterapeuta, educador físico), com a finalidade de se obter o benefício clínico e uma melhora contínua da função cardiorrespiratória. 

É um programa de longo prazo, de duração indefinida e muito variável. As atividades não são necessariamente supervisionadas, devendo ser adequadas à disponibilidade de tempo para a manutenção do programa de exercícios físicos e às preferências dos pacientes em relação às atividades desportivas recreativas.

Essa fase é geralmente considerada um programa de manutenção, quando a maioria dos parâmetros físicos e fisiológicos estão estagnados. Representa um compromisso com a prática regular de atividade física e controle do estilo de vida, construindo hábitos que necessitam ser levados para toda a vida. Esta fase é também apropriada para indivíduos sedentários sem doença cardíaca, cujo objetivo é melhorar a aptidão física e prevenir problemas de saúde associados à inatividade física. Para estes indivíduos, a fase IV destaca primeiro os ganhos funcionais, o condicionamento e a sua manutenção posteriormente.

Etapas da Reabilitação Cardiovascular 

Para Regenga (2000), o programa de RC envolve três etapas: aquecimento, treinamento e desaquecimento. Segundo o autor é necessário registrar diariamente as respostas de freqüência cardíaca e pressão arterial e dos sinais e sintomas apresentados durante as sessões de tratamento.

O aquecimento deve ter duração de 5 à 10 minutos, sendo efetuados exercícios de alongamentos dinâmicos e aeróbicos e de coordenação associados a exercícios respiratórios. Essa fase tem por objetivo preparar os sistemas músculoesquelético e cardiorrespiratório para a fase de condicionamento.

Na etapa do condicionamento são realizados exercícios aeróbicos e exercícios de resistência muscular; com duração de 40 minutos dependendo da capacidade do indivíduo. A freqüência cardíaca deve ser aferida durante esse período, bem como a pressão arterial. 

Marques8 (2008) defende que o condicionamento visa estimular o paciente a uma freqüência cardíaca programada a fim de obter efeito de treinamento. A intensidade do esforço deve ser aumentada gradualmente até o nível de treino programado. Os exercícios aeróbicos, rítmicos e dinâmicos são enfatizados e planejados de maneira a exercitar os grupos musculares das extremidades superiores e inferiores.

Os exercícios aeróbicos envolvem os grandes grupos musculares, têm duração típica entre 20 e 40min, e são capazes de elevar o consumo de oxigênio acima do nível de repouso.3 Este tipo de treino melhora significativamente o funcionamento do coração, pulmões e todo o sistema cardiovascular contribuindo para uma entrega de oxigênio mais rápida por todo o corpo.

Sequencialmente aos exercícios aeróbicos são realizados os exercícios de resistência muscular, que constituem-se de contrações dinâmicas realizadas em três séries com o máximo de repetições possíveis, sem ou com baixa resistência e intensidade, longa duração predominando o fator aeróbico. Não visam hipertrofia muscular, mas sim o aumento no fluxo sanguíneo local e uma melhora ou neoformação vascular.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2005) os exercícios de resistência muscular, anteriormente contra-indicados para cardiopatas em geral, passaram a integrar as prescrições dos programas de RC, pois objetivam preservar e aumentar a força e a potência muscular, ajudando a melhorar a endurance muscular, a função cardiovascular, o metabolismo, os fatores de risco coronariano e o bem estar geral.

Quando exercícios intensos são subitamente interrompidos, rincipalmente se o indivíduo permanece de pé, há uma tendência do sangue em estasiar nos membros inferiores, resultando em uma diminuição do retorno venoso ao coração. Em conseqüência disso há elevação da freqüência cardíaca e aumento da demanda miocárdica de oxigênio. Hipotensão arterial, hipofluxo cerebral com cefaléia, tonteira ou desmaio também podem ocorrer como conseqüência.

Por esta razão, com o objetivo de retornar o organismo às condições de repouso com valores de pressão arterial e freqüência cardíaca próximo aos basais e prevenir o aparecimento de lesões musculares, Regenga (2000) defende a realização de cinco minutos de caminhada de baixa intensidade utilizada para prevenir a estagnação do sangue nas extremidades, particularmente nas pernas, três minutos de alongamento associado aos exercícios respiratórios.

O papel do profissional fisioterapeuta nos programas de RC 

A fisioterapia tem sido considerada um componente fundamental na reabilitação de pacientes cirúrgicos cardiovasculares com o intuito de melhorar o condicionamento cardiovascular e evitar ocorrências tromboembólicas e posturas antálgicas, oferecendo maior independência física e segurança para alta hospitalar e posterior recuperação das atividades de vida diária. 

As ações do profissional fisioterapeuta nos programas de reabilitação cardíaca concentram-se principalmente nos aspectos físicos da recuperação, “minimizando os efeitos da perda de condicionamento prejudicado pelo repouso no leito e intensificando o funcionamento cardiovascular e músculo-esquelético” (PRYOR e WEBBER, 1998).

A avaliação, condução de exercícios respiratórios e assistidos ou ativos, deambulação supervisionada subida de escadas e outras, são algumas das atividades que devem ser realizadas pelo profissional fisioterapeuta, sempre de acordo com as condições do paciente. Outras funções importantes se destinam à orientação ao exercício, a automonitorização e a descrição das atividades para serem realizadas em casa, pelo paciente.

Discussão

Estudos apontam as doenças coronarianas como uma das principais causas de óbito em todo mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a doença coronariana continuará a ser, nas primeiras décadas do século XXI, a principal causa da mortalidade mundial.

Nesses casos de patologias cardiovasculares e outras, inclusive cirúrgicas, indicam-se os programas de Reabilitação Cardiovascular, que se baseiam na reabilitação física com conseqüentes reduções da morbidade e mortalidade, sendo ainda, a redução do estresse emocional, promovidos sob a orientação do profissional fisioterapeuta, de forma supervisionada ou não. 

De acordo com as Diretrizes de Reabilitação Cardíaca, o estilo de vida sedentário associa-se a um risco duplamente elevado de doença arterial coronariana, havendo uma redução em torno de 20% a 25% no risco de morte nos pacientes de programa de reabilitação cardiovascular, quando comparados aos que não realizam atividades.

Autores relatam que a atividade física permanente, por meio da fisioterapia, tem grande importância na terapêutica dos pacientes, devendo ser iniciada ainda na fase hospitalar, dando prosseguimento pós-alta hospitalar, o que propicia retorno ao estilo de vida anterior melhor qualidade de vida.

Marques apontam evidencias significativas de que a atividade física aeróbica regular reduz o risco de doença cardiovascular e de que o estilo de vida é freqüentemente considerado um dos cinco maiores fatores de risco para doença cardiovascular.

Conclusões

Atualmente os programas de reabilitação cardíaca vêm sendo desenvolvidas em pacientes enfermos cardiovasculares a fim de propiciar um retorno mais precoce às atividades diárias e com melhor qualidade de vida, objetivando a prática regular dos exercícios físicos com segurança e baixos custos. 
Para tanto, o programa de RC precisa ser fundamentado na avaliação contínua e objetiva de suas respostas, por meio da orientação e supervisão do profissional fisioterapeuta. Cada alteração no programa de exercício do paciente precisa ser baseada em uma detalhada avaliação objetiva. 

Os exercícios prescritos visam a melhora da a aptidão cardiovascular e aumentam a autoconfiança quando praticados por um período prolongado, promovendo adaptações morfológicas e funcionais no que diz respeito ao sistema cardiovascular e ao sistema muscular.

Referências

1. Rozentul LA, Faria MW, Meirelles RL, Brunini CMT. Efeitos da atividade aeróbia sobre a função cardiovascular na fase III da cirurgia de revascularização do miocárdio. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2005;15(3Supl A):9-1

2. Miranda A, Santos M. Análise dos efeitos da pressão positiva expiratória nas vias aéreas no pós-operatório de pacientes submetidos a revascularização do miocárdio. Rev Bras Fisioter 2004 set.;(Supl.)182

3. Leite ML, Bispo MB, Souza TO, Cardoso RF. Intervenção fisioterapêutica na reabilitação cardíaca após infarto agudo do miocárdio. [acesso 10 nov 2011] Disponível em:
http://srvwebbib.univale.br/pergamum/tcc/Intervencaofisioterapeuticana reabilitacaocardiacaaposinfartoagudodomiocardio.pdf

4. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz de reabilitação cardíaca.  Arq Bras Cardiol, São Paulo, v.84, n.5, Mai. 2005

5. Pryor JA, Webber BA. Fisioterapia para problemas respiratórios e cardíacos. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.  

6. Delisa JA. Tratado de medicina de reabilitação. 3ª ed. São Paulo: Ed. Manole; 2002. P. 115- 144

7. Dias AT, Matta PO, Nunes WA. Índices de gravidade em unidade de terapia intensiva adulto: avaliação clínica e trabalho da enfermagem. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, São Paulo, v.18, n.3, p. 279- 281, Jul.- Set. 2006.

8. Marques KS. A Interação dos Profissionais de Educação Física e Fisioterapia na Reabilitação Cardiovascular. [monografia]  2004. 61 f. Universidade Federal de Santa Catarina.

9. FARDY, P. S.; YANOWITZ, F. G.; WILSON, P. K. Reabilitação Cardiovascular: Aptidão Física do Adulto e Teste de Esforço. Rio de Janeiro: Revinter, 1998 287p.

10. Titoto L, Sansão MS, Marino LHC, et al. Reabilitação de pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio: atualização da literatura nacional.  Arquivo Ciência Saúde,  v.12, n.4, p.216- 219, Out.- Dez. 2005

11. REGENGA, M. M. Fisioterapia em Cardiologia: Da U.T.I. à Reabilitação. São Paulo: Roca, 2000. 292 p.

 

RESOLUÇÃO DA ANVISA OBRIGA UTI´S A AMPLIAR O QUADRO DE FISIOTERAPEUTAS

ImagemPara quem ainda não viu, está em vigor, desde o último dia 24 de fevereiro de 2013, a íntegra da RDC nº 07/2010 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), dispõe sobre os requisitos mínimos para funcionamento das Unidades de Terapia Intensiva (UTI).

A norma traz parâmetros tanto para a estrutura, organização e processos de trabalho quanto para a obtenção e monitoramento de indicadores de saúde que retratem o perfil assistencial da unidade.

Publicada em 24 de fevereiro de 2010, a resolução estabeleceu, a princípio, um prazo de 180 dias para que os estabelecimentos promovessem as adequações necessárias para o cumprimento da mesma. No entanto, para alguns artigos específicos (principalmente relacionados aos recursos humanos e materiais) esse prazo foi estendido para três anos. Dessa forma, a partir de agora, todas as exigências contidas na resolução deverão ser seguidas na íntegra pelas UTIs do país.

“A resolução torna obrigatória a presença de no mínimo um fisioterapeuta para cada dez leitos em um total de 18h diárias e vêm atender uma necessidade de assistência à saúde de usuários da alta complexidade, pois faz com que seja necessária uma equipe de fisioterapia coordenada por fisioterapeuta especialista em terapia intensiva”, afirmou o presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional MS (CREFITO – 13), Carlos Alberto Eloy Tavares.

Para Tavares, a RDC 7 mostra o reconhecimento do serviço de fisioterapia dentro das UTIs. “Há que destacar ainda outro aspecto positivo que é o aumento de vagas para fisioterapeutas dentro dos hospitais, pois é possível considerar um número de 4 a 5 destes profissionais por UTI com 10 leitos, tendo vista as escalas de horários”, destacou.

A verificação do cumprimento dessas exigências é realizada pelos órgãos de vigilância sanitária local (estadual ou municipal), que possuem a competência para fiscalizar as condições sanitárias dos serviços sob sua jurisdição, com base nas normativas emitidas pela Anvisa e pelas esferas estaduais e municipais as quais pertencem.

O CREFITO-13 também está estabelecendo um plano de ação para fiscalizar os hospitais sul-mato-grossenses que possuem UTI com o objetivo de garantir que a resolução seja cumprida. “Este é, sem dúvidas, um marco para a assistência em saúde e uma importante conquista dos profissionais fisioterapeutas e dos cidadãos sul-mato-grossenses”, afirmou Tavares.

Fonte: Folha de Dourados

Quando fisioterapia é fingimento? Quando não tem foco.

Quando fisioterapia é fingimento? Quando não tem foco.

Justiça do trabalho dá poder a fisioterapeutas

Imagem

Decisão tem desagradado a médicos, que falam em irregularidade

Os laudos médicos até podem comprovar as doenças ocupacionais, mas a Justiça tem atuado de maneira mais criteriosa para identificar o causador de incapacidades funcionais e assim definir indenizações para trabalhadores prejudicados pela má qualidade do ambiente profissional. Vários juízes do Trabalho têm nomeado fisioterapeutas como peritos, com a intenção de analisar a ergonomia das empresas.

A contratação desses especialistas é bem polêmica, mas tem crescido a cada dia no país. No Espírito Santo, em pelo menos seis processos em tramitação há atuações de fisioterapeutas. Porém, o assunto tem causado mal-estar entre os profissionais do setor de Medicina do Trabalho. Muitos médicos afirmam que os fisioterapeutas têm exercido um papel irregular.

O juiz Antonio de Carvalho Pires, da 3ª Vara, foi um dos primeiros do Estado a contratar fisioterapeuta para analisar as ações e o primeiro a dar sentença favorável ao trabalhador, a partir dos estudos feitos pelo especialista José Ronaldo Veronesi Junior.

A empresa processada, a Chocolates Garoto, recorreu da decisão. Há menos de um mês, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT), em decisão unânime entre desembargadores, acatou a sentença de primeiro grau e a análise feita pelo fisioterapeuta.

O juiz Antonio de Carvalho Pires explica que tem nomeado fisioterapeuta com a intenção de avaliar a ergonomia no trabalho. “Esse perito não é contratado para realizar diagnóstico médico. Geralmente, o trabalhador apresenta todos os laudos, exames, não sendo necessário comprovar a doença e sim verificar se realmente a responsável pelo mal é a empresa”, diz.

Veronesi foi o primeiro fisioterapeuta no país a participar de processos trabalhistas. E nesse processo identificou que a trabalhadora Maria Margareth Gava Stefanon perdeu, de forma permanente, 100% das condições de atuar em atividades de risco, 75% para trabalhos moderados, só podendo exercer funções com baixa periculosidade, caso passe por um tratamento adequado para a lesão.

“Esse detalhamento da área de trabalho e do cargo do profissional na empresa me surpreendeu. Foi importante saber qual o impacto que a função causou no trabalhador”, disse Pires.

Segundo o juiz, em outras situações se faz necessário nomear tanto um médico do trabalho, para avaliar o paciente, quanto o fisioterapeuta, para verificar o grau de incapacidade gerado pelo esforço laboral.

O advogado da trabalhadora, Geraldo Benício, explica que a cliente ganhou uma indenização de R$ 330 mil por dano material e R$ 46 mil por danos morais. “Ela já está há 11 anos afastada por auxílio-doença acidentário devido a uma tendinite nos punhos e ombros, algo que provavelmente não terá cura. O que me chamou a atenção na avaliação do fisioterapeuta é o fato de que apenas uma perícia médica não teria uma conclusão sobre a questão laborativa. Geralmente, o médico faz uma análise só do paciente, não saindo do consultório para conhecer a ergonomia do trabalho”, diz.

 

Dor na coluna é líder em auxílio-doença

Dados do Ministério da Previdência Social apontam que o número de afastamentos e aposentadorias por invalidez decorrentes de dores na coluna tem ocupado grandes posições na lista de doenças com maior incidência no Brasil.

Em 2011, as Dorsalgias, popularmente conhecidas como dores nas costas, foram responsáveis por 9% do total de concessões de auxílios doenças acidentários, com 28.744 beneficiários no país. Somando os afastamentos e aposentadorias decorrentes de acidentes de trabalho e os auxílios previdenciários, foram cerca de 203 mil pessoas afastadas por dorsopatias (doenças das costas), número que se manteve em 2012.

Ao todo, foram concedidos no Espírito Santo mais de 1.118 auxílios-doenças acidentários, incluindo dores na coluna, LER, entre outros.

“Seria muito mais barato para o governo investir em ações preventivas do que custear afastamentos temporários e aposentadorias precoces”, ressalta Angela Lepesqueur, fisioterapeuta e diretora do Instituto de Tratamento da Coluna Vertebral em Brasília (ITC Vertebral).

Fonte: Gazeta Online – globo.com

HÉRNIA OU PROTUSÃO DE DISCO TEM POUCA RELAÇÃO COM DOR LOMBAR

Sergio Marinzeck Ft, M.Phty (Manip), MPA, IFOMPT

     Uma assunção comum entre profissionais da área de saúde, principalmente médicos e fisioterapeutas, é que o maior vilão para a dor lombar é a presença das deformações do disco intervertebral, conhecidas como protrusões, herniações ou extrusões. As evidências entretanto, nem sempre apontam que isso é verdadeiro. 

     Nos últimos 20 anos vários estudos usando RM (ressonância magnética) e tomografia foram feitos em indivíduos normais que participam de diversas atividades diferentes. Foi determinado que um grande número destes indivíduos, que não tem qualquer dor lombar, tinham um percentual grande de herniações e/ou protrusões (1-8).

     Em 1995 Fraser et al conduziram um estudo em que pacientes com dor lombar e hernição de disco receberam cirurgia, injeção ou injeção placebo. Após 10 anos ele reavaliou os pacientes e grande parte deles ainda tinham hérnias discais mas ela não tinha nenhuma relação com o bem estar do paciente. Em outras palavras, muitos pacientes que estavam se sentindo bem ainda continuavam com as herniações no disco.

     Em um estudo prestigioso que foi publicado por Jenson e Modic em 1994 no conceituado New England Journal of Medicine, eles usaram ressonância magnética em 98 indivíduos assintomáticos (sem dor) e encontrarm que 52% tinham deformações do disco e 27% tinham protrusões discais.

     No estudo de Weshaupt e Boos 1994, eles pegaram 60 pessoas aleatórias (idade média de 35 anos) que nunca tiveram dor lombar em suas vidas. Após a ressonância os achados foram que 24% tinham deformações do disco, 40% tinham protrusões e 18% tinham extrusões do disco. Em outro estudo consagrado de Boos et al em 1995, ele avaliou indivíduos que não tinham dor lombar ou ciática e que aplicavam grande estress em sua coluna devido ao trabalho (carregadores por exemplo). Sua conclusão foi que 76% destes indivíduos tinham pelo menos 1 protrusão ou extrusão do disco. Destes indivíduos 24% tinham imagens claras de compressão da raíz nervosa pelo disco, ainda que não tinham qualquer queixa de dor lombar ou ciática.

COMPILAÇÃO DOS ACHADOS 

     Abaixo segue a compilação dos estudos que avaliaram a presença de alterações no disco em pessoas normais (sem dor lombar ou ciática):

Imagem

CONCLUSÃO

     É importante que os profissionais da área de saúde procurem entender e objetivar o tratamento da dor lombar não apenas pela presença de protrusões ou herniações do disco intervertebral. A dor lombar e a ciática são multifacetárias, e ainda que possam conter elementos biológicos e mecânicos (extrusões severas podem sim causar dor e disfunção num paciente), outros elementos importantes e reconhecidos hoje estão em ação, como a função da coluna (controle motor, ação e estabilização), adaptação da mesma ao meio físico e social do paciente, mecanismos de dor em operação e aspectos psicosociais.

REFERÊNCIAS

Jensen MC, et al. “MRI imaging of the lumbar spine in people without back pain.” N
Engl J Med – 1994; 331:369-373
Boden SD et al. “Abnormal magnetic resonance scans of the lumbar spine in
asymptomatic subjects: A prospective investigation.” J Bone Joint Surg Am 1990;
72A:403-408
Weishaupt D et al. “MRI of the lumbar spine: Prevalence of intervertebral disc
extrusion and sequestration, nerve root compression and plate abnormalities, and
osteoarthritis of the fact joints in Asymptomatic Volunteers.” Radiology – 1998;
209:661-666

Boos N, et al. “1995 Volvo Award in clinical science: The diagnostic accuracy of MRI,
work perception, and psychosocial factors in identifying symptomatic disc
herniations.” Spine – 1995; 20:2613-2625
Powell MC, et al. “Prevalence of lumbar disc degeneration observed by magnetic
resonance in symptomless women.” Lancer – 1986; 2:1366-7
Boos N, et al. “Natural history of individuals with asymptomatic disc abnormalities in
MRI: Predictors of low back pain-related medical consultation and work incapacity.”
Spine 2000; 25:1484
Borenstein G, Boden SD, Wiesel SW, et al. “The value of magnetic resonance imaging
of the lumbar spine to predict low-back pain in asymptomatic individuals: A 7-year
follow-up study. J Bone Joint [am] 2001; 83:320-34
Wiesel SW, et al. “A study of computer-associated tomography: I. The incidence of
positive CAT scans in asymptomatic group of patients.” Spine 1984;9:549-51
Wood KB, et al. ‘Magnetic resonance imaging of the thoracic spine. Evaluation of
asymptomatic individual s.’ J Bone Joint Surg Am. 1995 Nov;77(11):1631-8
Fraser RD, Sandhu A, Gogan WJ. ‘Magnetic resonance imaging findings 10 years after
treatment for lumbar disc herniation.’ Spine 1995 Mar 15;20(6):710-4.

Solução Stress e Ansiedade

Prof. Esp Rodrigo Dispato

Professor da FisioWork dos cursos:

-Manipulação Neuromiofascial
-Terapia Manual Osteopática
-Treinamento Fisiológico Funcional (TFF)
-Fisioterapia Esportiva no contexto Olímpico e Paralímpico
-Terapia manual de analgesia rápida

Movimento Combinado – ESTUDO DE CASO – COLUNA CERVICAL

     O seguinte estudo de caso ilustra como a utilização do conceito movimento combinado pode ser útil tanto no diagnóstico quanto no tratamento de sintomas cervicais de origem mecânica.
 
História
     Dona Joaquina, 43 anos, professora de ensino médio, se apresentou na clínica queixando-se de dor insidiosa na região supraescapular direita. Começou a perceber os sintomas depois de uma semana quando assumiu novas turmas. Fizeram 21 dias desde esta mudança de atividade. Relatou que seu principal problema é quando precisa escrever no quadro (destra), principalmente por períodos prolongados. A paciente também queixa-se da dor para estacionar o seu carro do lado direito.
 
     Nega a presença de rigidez matinal prolongada, presença de paraestesias ou distúrbios somatosensoriais (vertigem, tontura, etc). Descreve sua dor como sendo ´chata´, de difícil localização e indica 6/10 na escala verbal de dor (EVD sendo 0 – nada e 10 – máxima dor) quando realiza os movimentos provocativos .
 
     A medicação analgésica e anti-inflamatória prescrita surtiu pouco efeito nos sintomas.
História pregressa inclui episódios de dores lombares inespecíficas ocasionais, para as quais nunca procurou auxílio médico.
 
Inspeção física
     Tendo em vista a ausência de yellow e/ou red flags, baixa irritabilidade, moderada severidade, assim como ausência de sinais e sintomas sugestivos de comprometimento neural, julgou-se apropriado conduzir uma avaliação física completa do quadrante superior para identificação da provável fonte nociceptiva e estabelecimento do diagnóstico.
 
     A paciente apresentava relativa boa postura do quadrante superior, testes neurodinâmicos se encontravam normais. Os músculos da região cervical não apresentavam encurtamento relevante ou presença de pontos gatilhos que reproduzissem a dor familiar. Testes de quadrante e travamento (locking) do ombro se encontravam normais.
 
     A avaliação da mobilidade cervical ativa demonstrou: 1) rotação cervical direita e extensão estavam reduzidas em 50% sendo que a primeira graduava EVD 3/10  e a segunda EVD 4/10; 2) a utilização de movimentos combinados (Edwards 2002, Edwards 1999) de extensão e rotação direita reproduziu mais fidedignamente a dor da paciente, provocando EVD 7/10.
 
     Ambos os movimentos de rotação direita e extensão e a combinação destes produzem um deslizamento caudal das facetas articulares direitas. Em movimento combinado, esta resposta obtida durante o exame ativo-assistido é denominada como um padrão de disfunção compressivo.
 
     As informações subjetivas e objetivas obtidas até este ponto da avaliação apontavam para a presença de uma disfunção mecânica cervical com provável envolvimento das articulações facetárias da coluna cervical. Sendo assim, decidiu-se aplicar um movimento acessório intervertebral passivo posteroanterior caudal (PA) sobre as facetas articulares cervicais direitas na posição combinada de extensão e rotação direita com a paciente em prono (figura 1). Ao aplicar esta técnica de movimento combinado sobre C5 (Edwards 2002, Edwards and Maitland 2006, McCarthy 2010), observou-se que a mesma reproduziu completamente a dor da paciente (EVD 6/10) e se encontrava hipomóvel quando comparada com as demais.
 
Imagem
 
Figura 1 – PA unilateral direita em extensão e rotação direita
 
     De acordo com o conceito movimento combinado, o efeito biomecânico da aplicação da PA unilateral direita mencionada acarreta em um deslizamento inferior da faceta articular direta de C5 sobre C6, fechando ainda mais este segmento.
 
Mini-tratamento
     Uma prática clínica comum entre fisioterapeutas manipulativos é a aplicação de um mini-tratamento, seja ele articular, muscular ou neural, de forma a auxiliar o raciocínio clínico para facilitar tanto no diagnóstico quanto no tratamento de uma disfunção musculoesquelética.
 
     Tendo em vista os achados subjetivos e objetivos indicativos de uma disfunção articular cervical, decidiu-se pela aplicação de um movimento intervertebral acessório passivo anteroposterior à direita de C5 em uma posição de leve extensão e rotação direita (figura 2).
 
     Este movimento também produz um movimento caudal de C5 sobre C6 e foi realizado de forma indolor. A técnica foi aplicada por cerca de 60 segundos e observou-se, após a aplicação, que a rotação direita e a extensão melhoraram em 50%, assim como a PA unilateral direita de C5 estava com mobilidade normal, produzindo uma leve dor (EVD 2/10).

 Imagem

Figura 2 – AP direita em leve extensão e rotação direita
 
     Sendo assim, a técnica foi aplicada mais duas vezes por 60 segundos. Na reavaliação, a rotação direita e extensão estavam completas com um leve desconforto no final da ADM; a PA unilateral direita sobre C5 não mais produzia dor e a mobilidade estava restaurada. A paciente negou a presença de algum desconforto decorrente do tratamento.
 
Tratamento 2
     Dona Joaquina retornou conforme solicitada para reavaliação e continuação do tratamento após 3 dias. Ela relatou ausência completa dos sintomas nas 36 horas após a consulta inicial e negou a presença de desconforto horas após o tratamento ou na manhã seguinte. Os sintomas retornaram parcialmente apenas e a paciente disse sentir `a coluna mais flexível´ obtendo uma melhora geral de 50%.
 
     Na reavaliação observou-se uma leve regressão da mobilidade ativo-assistida (75% da ADM livre de dor) atingida ao final da última sessão e a PA unilateral direita sobre C5 se encontrava ligeiramente hipomóvel e produzia uma EVD 2/10.
 
     Devido ao resultados positivos obtidos, decidiu-se manter a técnica e reaplicar três séries de um minuto (figura 2), porém com a cervical em extensão e rotação direita completas. Logo após a execução desta, três séries de trinta segundos de uma mobilização intervertebral fisiológica passiva de C5 sobre C6 foi realizada (figura 3).
 
     Nesta técnica C6 é bloqueada pela mão direita e C5 é conduzida em extensão e mobilizada em rotação direita.

 Imagem

 Figura 3 – Rotação direita em extensão
 
     Na reavaliação a mobilidade ativa se encontrava restaurada e livre de dor, a PA unilateral direita sobre C5 estava com mobilidade normal e sem dor. A paciente negou a presença de qualquer sintoma decorrente do tratamento.
 
     A paciente foi instruída a realizar uma série de 10 repetições de um exercício envolvendo extensão e rotação direita que deveria ser realizado várias vezes ao longo do dia.
 
Tratamento 3
     Após uma semana, a paciente retornou para reavaliação dizendo estar 90% melhor. Sentia apenas leve desconforto(EVD 1/10) no final da jornada de trabalho. Disse ter sentido que os exercícios indicados auxiliaram na evolução de seu quadro.
 
     Na reavaliação tanto a rotação direita quanto a extensão estavam completas e provocavam apenas desconforto (EVD 1/10) e a PA unilateral direita sobre C5 estava com mobilidade normal e sem dor.
 
     As técnicas realizadas na última consulta foram repetidas. Ao final da sessão a paciente estava sem restrição ou dor na mobilidade ativa.
 
     Dona Joaquina recebeu alta e foi solicitada a continuar realizando os exercícios de maneira menos intensa por mais uma semana.
 
Conclusão
     Este estudo de caso demonstrou como o conceito movimento combinado pode ser uma ferramenta útil na identificação de uma fonte nociceptiva cervical e como ele proporciona uma progressão lógica e rápida na resolução de uma disfunção cervical mecânica muito comum em clínicas de fisioterapia.
 
 
 
Prof. Ms. Rafael Baeske
Professor do curso de Movimento Combinado
do Grupo FisioWork®
 
Fisioterapeuta;
Mestre em Terapia Manual pela Universidade de Coventry, Inglaterra;
Membro da Musculoskeletal Association of Chartered Physiotherapists (MMACP);
Certificação Internacional em Movimento Combinado – Reino Unido;
Instrutor certificado e aprovado do Método Kinesio Taping (KTAI – EUA);
Participação e formação no programa internacional com duração de nove meses do conceito Mulligan pela Associação Internacional de Professores do Conceito Mulligan – Reino Unido;
Experiência clínica internacional.
 
 
 
Referências
Edwards, B. and Maitland, G. (2006) ‘Application of Techniques’. in Maitland’s Vertebral Manipulation. ed. by Maitland, G., Hengeveld, E., Banks, K., and English, K. Edinburgh: Elsevier Butterworth Heinemann, 213-228
Edwards, B. (2002) ‘Combined Movements of the Cervical Spine in Examination and Treatment’. in Physical Therapy of the Cervical and Thoracic Spine. ed. by Grant, R. Edinburgh: Churchill Livingstone, 159-181
Edwards, B. C. (1999) Manual of Combined Movements. 2nd edn. Oxford: Butterworth Heinemann
McCarthy, C. (ed.) (2010) Combined Movement Theory. 1st edn. Edinburgh: Churchill Livingstone Elsevier 

Terapia Manual Vertebral

      Movimento combinado é uma abordagem de avaliação e tratamento de distúrbios álgicos mecânicos da coluna vertebral extensamente utilizada por fisioterapeutas manipulativos/musculoesqueléticos, sendo um dos cursos de extensão mais procurados por fisioterapeutas europeus. Esta modalidade foi criada pelo fisioterapeuta Brian Edwards (1-4) que desenvolveu uma progressão lógica de avaliação e tratamento das disfunções espinhais por meio de técnicas manuais vertebrais.
 
      Edwards propôs (3-4) que, como os movimentos da coluna vertebral ocorrem de maneira combinada em diversos planos, a avaliação e o tratamento de pacientes com disfunções espinhais deve também envolver a utilização de mais de um plano de movimento. Desta maneira, quando indicada, a avaliação e o tratamento através do conceito movimento combinado é mais eficaz, rápida e segura.
 
      O exemplo ao lado demonstra como movimento combinado pode facilitar a precisa identificação de disfunções vertebrais mecânicas. Em uma posição de extensão e flexão lateral direita, as facetas articulares lombares à direita encontram-se aproximadas (em compressão). Porém, sem a utilização de um movimento intervertebral acessório passivo (MIAP) torna-se difícil a correta localização de qual faceta é a responsável pelos sintomas do paciente. Com a utilização de um MIAP caudal sobre o processo transverso direito de L4, podemos produzir um aumento ainda maior da compressão facetária de L4-L5 à direita. Desta maneira, se este segmento for o responsável pelos sintomas, obtem-se reprodução da dor familiar apresentada pelo paciente assim como a presença de alterações na mobilidade articular segmentar. Esta combinação biomecânica é uma característica única em movimento combinado.
 
      A importância de se possuir técnicas avançadas para se avaliar e tratar disfunções musculoesqueléticas torna-se mais relevante quando estudos investigando as causas patoanatômicas das disfunções vertebrais são levados em consideração. Dillingham (5)  realizou um estudo seminal nesta área e constatou que 85% das apresentações clínicas de dores lombares são consideradas inespecíficas, ou seja, não é possível estabelecer com absoluta certeza qual a causa do problema. Os mesmos achados se aplicam para disfunções musculoesqueléticas da coluna cervical (6). Desta maneira, a utilização de sinais e sintomas oriundos de um exame físico avançado através de movimentos combinados é extremamente importante no manejo de pacientes com dores vertebrais.
 
      Estudos clínicos controlados têm demonstrado que técnicas manuais vertebrais causam uma importante hipoalgesia mecânica oriunda de centros supraspinhais (7-14). Desta maneira,  estas devem ser consideradas como alternativas de tratamento na reabilitação de pacientes com disfunções vertebrais. Interessantemente, existem estudos alertando para o fato que a utilização da abordagem através de movimentos combinados é mais eficaz, provavelmente devido ao fato desta modalidade de tratamento ser mais avançada e em posições mais funcionais (15-17).
 
      As principais características do conceito movimento combinado são:
 
1- A avaliação é realizada em posições combinadas que se aproximam a demonstração funcional apresentada pelo paciente(1, 17, 18). Exemplificando, se o paciente relata que estacionar o carro do lado direito é um problema, a avaliação muito provavelmente irá envolver o uso de extensão e rotação cervical para a direita.
2- O tratamento se dá através de dois ou três planos de movimento, ou seja, as técnicas de tratamento (acessórias e fisiológicas) são utilizadas em posições combinadas, respeitando a biomecânica normal das articulações facetárias.
3- O tratamento é avançado: utiliza grau III (em resistência) na posição combinada. Assim, no caso do paciente com dificuldade para estacionar o carro para a direita, o tratamento envolverá o uso de técnicas acessórias e/ou fisiológicas em extensão e rotação cervical para a direita. Estudos alertam sobre a importância de se utilizar graus avançados para a produção de estimulação supraespinhal e produção de analgesia (12,19,20).
4- A abordagem pode ser utilizada em apresentações nociceptivas clínicas severas e não severas. Sendo que a principal diferença é o uso da posição combinada inicial. Ou seja, usando o exemplo acima, se o paciente relatar níveis álgicos elevados, ao invés de se utilizar extensão e rotação para direita no tratamento, a flexão e rotação para esquerda é usada. Desta maneira, os tecidos responsáveis pela informação nociceptiva estarão em um estado de repouso e técnicas de mobilização de amplitude larga (grau III) podem ser aplicadas com segurança.
 
       A fisioterapia musculoesquelética vertebral tem se destacado mundialmente pela grande quantidade de modalidades de tratamento, sendo que muitas destas não possuem nenhuma comprovação científica. Fisioterapeutas devem seguir a tendência mundial da prática baseada em evidências. Isto proporcionará ao fisioterapeuta um respeito profissional oriundo de seus pacientes e de outros profissionais da área da saúde, assim como ajudará a fisioterapia a ser mais respeitada como uma importante alternativa de tratamento para disfunções musculoesqueláticas.
 
 
Prof. Ms. Rafael Baeske
Professor do curso de Movimento Combinado
do Grupo FisioWork®
 
Fisioterapeuta;
Mestre em Terapia Manual pela Universidade de Coventry, Inglaterra;
Membro da Musculoskeletal Association of Chartered Physiotherapists (MMACP);
Certificação Internacional em Movimento Combinado – Reino Unido;
Instrutor certificado e aprovado do Método Kinesio Taping (KTAI – EUA);
Participação e formação no programa internacional com duração de nove meses do conceito Mulligan pela Associação Internacional de Professores do Conceito Mulligan – Reino Unido;
Experiência clínica internacional.
 
 
Referências
1. Edwards B, Maitland G. Application of techniques. In: G. Maitland, E. Hengeveld, K. Banks, K. English, editors. Maitland’s vertebral manipulation. Edinburgh: Elsevier Butterworth Heinemann; 2006.
2. Maitland G, Hengeveld E, Banks K, English K, editors. Maitland’s vertebral manipulation. 7th ed. Edinburgh: Butterworth Heinemann Elsevier; 2005.
3. Edwards BC. Manual of combined movements. 1st ed. Edinburgh: Churchill Livingstone; 1992.
4. Edwards BC. Manual of combined movements. 2nd ed. Oxford: Butterworth Heinemann; 1999.
5. Dillingham T. Evaluation and management of low back pain: And overview. State of the Art Reviews 1995;9(3):559-74.
6. Jull G, Sterling M, Falla D, Treleaven J, O’Leary S, editors. Whiplash, headache and neck pain. 1st ed. Edinburgh: Churchill Livingstone Elsevier; 2008.
7. Wright A. Hypoalgesia post-manipulative therapy: A review of a potential neurophysiological mechanism. Manual Therapy 1995;1:11-6.
8. Wright A, Vicenzino B. Cervical mobilisation techniques, sympathetic nervous system effects and their relationship to analgesia. In: M. Shacklock, editor. Moving in on pain. Australia: Butterworth – Heinemann; 1995.
9. Vicenzino B, Collins D, Wright T. Sudomotor changes induced by neural mobilisation techniques in asymptomatic subjects. J MANUAL MANIPULATIVE THER 1994 06;2(2):66-74.
10. Vicenzino B, Gutschlag F, Collins D, Wright A. An investigation of the effects of spinal manual therapy on forequarter pressure and thermal pain thresholds and sympathetic nervous system activity in asymptomatic subjects: A preliminary report. In: M. Shacklock, editor. Moving in on pain. Australia: Butterworth – Heinemann; 1995.
11. Vicenzino B, Collins D, Wright A. The initial effects of a cervical spine manipulative physiotherapy treatment on the pain and dysfunction of lateral epicondylalgia. Pain 1996;68:69-74.
12. Chiu TW, Wright A. To compare the effects of different rates of application of a cervical mobilisation technique on sympathetic outflow to the upper limb in normal subjects. Manual Therapy 1996;1(4):198-203.
13. McGuiness J, Vicenzino B, Wright A. Influence of a cervical mobilization technique on respiratory and cardiovascular function. Manual Therapy 1997;2(4):216-20.
14. Vicenzino B, Collins D, Benson H, Wright A. An investigation of the interrelatioship between manipulative therapy-induced hypoalgesia and sympathoexcitation. Journal of Manipulative and Physiological Therapeutics 1998;21(7).
15. Sterling M, Jull G, Wright A. Cervical mobilisation: Concurrent effects on pain, sympathetic nervous system activity and motor activity. Manual Therapy 2001;6(2):72-81.
16. Edwards B. Low back pain and pain resulting from lumbar spine conditions: A comparison of treatment results. The Australian Journal of Physiotherapy 1969;15(3):104-10.
17. Edwards B. Combined movements of the cervical spine in examination and treatment. In: Ruth Grant, editor. Physical therapy of the cervical and thoracic spine. Edinburgh: Churchill Livingstone; 2002.
18. McCarthy C. Combined movement theory. 1st ed. Edinburgh: Churchill Livingstone Elsevier; 2010.
19. Willett E, Hebron C, Krouwel O. The initial effects of different rates of lumbar mobilisations on pressure pain thresholds in asymptomatic subjects. Manual Therapy 2009;15:173-8.
20. Krouwel O, Hebron C, Willett E. An investigation into the potential hypoalgesic effects of different amplitudes of PA mobilisations on the lumbar spine as measured by pressure pain thresholds (PPT). Manual Therapy 2010 02;15(1):7-12.